Almeirim fica na margem esquerda do Tejo, frente a Santarém. É célebre pela «sopa da pedra». Um monge tinha uma pedra na panela e pedia uma pouca de água, apenas, para fazer uma sopa. E à medida que lhe iam dizendo que, se calhar, se pusesse uma batata ou um naco de toucinho, ou uma rodela de chouriço, uma mancheia de feijão… ficaria mais substancial, o frade ia acedendo. Que sim, que aceitava a ideia! E assim nasceu a sopa da pedra, a tradição de que Almeirim se orgulha e, hoje, todos os restaurantes se oferecem para servir a sopa da pedra mais tradicional e mais saborosa!
Vive da gastronomia a povoação. Em volta da praça de touros (outra das tradições, a tauromaquia), pululam os restaurantes, que, além da sopa da pedra, têm na ementa a lampreia (no seu tempo), o ensopado de enguias… E, sentado numa encruzilhada, lá está o monge, de bronze, com a panela à frente.


Amiúde se esquece que a Família Real também demandava a lezíria para fugir, quando necessário, aos «ares empestados» da capital. Fundada em 1411 por el-rei D. João I, que aí mandou construir um paço acastelado de que ora pouco resta, Almeirim chegou a ser, no século XVI (dizem), «a Sintra de Inverno». D. Manuel I, por exemplo, fez questão de aí frequentemente residir.
Essa história está agora a ser mais recordada e é parcialmente mostrada no singelo Museu Municipal, inaugurado a 24 de Março de 2012, a que a Associação Portuguesa de Museologia, no intuito de dar novo alento à iniciativa, atribuiu, em 2013, uma menção honrosa na categoria de «Melhor Museu Português». Pequeno de dimensão, reúne o que foi o recheio do chamado Museu Etnográfico da Casa do Povo, procurando, em pinceladas breves mas sugestivas, dar uma ideia de como eram e como viviam as gentes almeirinenses: as alfaias agrícolas, os trajes típicos, os vestígios desde a Pré-história e a época romana…. Ponto de orgulho é assinalar, por exemplo, que foi ali que Garcia de Resende começou a imprimir o Cancioneiro Geral.
Dir-se-á que é lento esse despertar para atrair visitantes, uma vez que se centrou – quiçá demasiado – apenas na «sopa da pedra». O Museu – aproveitando o espaço do que foi o terminal rodoviário – aliado ao embrião de uma «universidade da terceira idade» aí também residente, inserido no imenso largo da feira, poderá constituir importante pedra de toque a não esperdiçar! Como o foi a pedra na panela do frade!…